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MANCEBO RIPA NA CHULIPA

MEMORIAL MANCEBO RIPA NA CHULIPA Sobre as Dobras do Cotidiano e a Geometria da Intimidade Há objetos que nascem não da necessidade imediata, mas de uma arqueologia afetiva. O Mancebo Ripa na Chulipa surge dessa escavação delicada entre memória e funcionalidade, entre o gesto cotidiano e sua elevação à categoria de desenho, onde cada plano revela camadas sobrepostas de experiência, este móvel constrói sua narrativa através de empilhamentos - não apenas físicos, mas simbólicos. A mesinha de telefone dos anos 80 e 90 funcionava como um altar doméstico da comunicação. Ali se depositavam não apenas o aparelho e a lista telefônica, mas também as chaves, as correspondências, os pequenos objetos que fazem a ponte entre o público e o privado. Era o mobiliário da transição, do limiar. O Mancebo Ripa na Chulipa retoma essa função mediadora, mas a expande para os rituais contemporâneos: o apoio para o notebook, o descanso momentâneo da bolsa, o banco improvisado para calçar os tênis. "Ripa na chulipa" - a expressão de Osmar Santos carrega em si toda a poética do incentivo brasileiro, da superação através da ginga. Há algo profundamente nacional nessa combinação entre praticidade e improviso, entre o formal e o coloquial. O nome não é ornamental; é programa, o Mancebo Chulipa propõe que o design seja antes de tudo uma conversa com o corpo e seus hábitos. O pinus e o MDP com revestimento BP nas cores rosa e verde não são escolhas arbitrárias. Há aqui uma discussão cromática que ecoa as investigações construtivas dos anos 50, quando nossos artistas descobriram que a cor brasileira não estava necessariamente na exuberância tropical, mas na capacidade de criar tensões sutis entre tons aparentemente díspares. O rosa e o verde estabelecem um diálogo que é simultaneamente pop e construtivo, doméstico e arquitetônico. As ripas, dispostas verticalmente, criam uma textura que remete às antigas divisórias de madeira das casas brasileiras. É uma geometria que respira, que permite a passagem da luz e do olhar, mantendo a funcionalidade sem comprometer a leveza visual. O Mancebo Ripa na Chulipa nasce de uma urgência contemporânea: os espaços que se contraem exigem móveis que se expandem em possibilidades. Como resolver o problema da cama alta sem um banco? Como criar um espaço de transição entre a entrada e a sala? Como recuperar a sociabilidade dos objetos em tempos de isolamento? O móvel responde a essas questões não através de soluções unívocas, mas de proposições abertas. A mesinha destacável funciona como uma lição de modulação: encaixada, compõe o conjunto; separada, torna-se mesa de apoio, banco extra, suporte para plantas. É a mesma estratégia dos neoconcretistas: criar objetos que só se completam na relação com o usuário, que dependem da ação para ganhar sentido pleno. Há uma sabedoria construtiva no empilhamento que atravessa nossa cultura - das pedras dos sambaquis às favelas, da arquitetura popular aos experimentos de Amílcar de Castro. O Mancebo trabalha com essa tradição, criando uma verticalidade que é ao mesmo tempo estrutural e poética. O banco na base ancora o conjunto; o painel ripado oferece a funcionalidade; a mesinha destacável propõe o lúdico. Este móvel não pretende revolucionar o espaço doméstico, mas sim criar pequenas pausas, respirações no fluxo cotidiano. Como as pinturas maduras de Tomie, onde cada forma parece encontrar seu lugar natural no espaço, o Mancebo Chulipa busca essa evidência silenciosa, essa capacidade de estar presente sem gritar, de ser funcional sem abrir mão da delicadeza. É mobiliário para os gestos menores: sentar para calçar o sapato, pendurar a jaqueta ao chegar, apoiar o copo durante uma conversa. Gestos que, somados, constroem a gramática da intimidade. O Mancebo propõe uma volta ao essencial que não é minimalista, mas generosa. Como os melhores objetos do design brasileiro, ele negocia entre a herança artesanal e a necessidade industrial, entre a memória afetiva e a inovação funcional. É um móvel que compreende que, em tempos de aceleração, às vezes o mais revolucionário é simplesmente oferecer um lugar para pausar. Nele encontramos ecos da mesinha da vovó, mas também antecipações do futuro doméstico - flexível, adaptável, humanamente generoso. É design que conversa, que propõe, que se oferece sem se impor. Como toda boa poesia, é ao mesmo tempo familiar e surpreendente, simples e complexo, brasileiro e universal.


Data

Maio de 2019

Responsaveis:

Desenvolvido por arquitetos / designers Mariana Figueredo e Diego Giovani Bonifácio em 2019 para o concurso Veromobili.


O Empilhamento Como Filosofia

Há uma sabedoria construtiva no empilhamento que atravessa nossa cultura - das pedras dos sambaquis às favelas, da arquitetura popular aos experimentos de Amílcar de Castro. A mesinha destacável funciona como uma lição de modulação: encaixada, compõe o conjunto; separada, torna-se mesa de apoio, banco extra, suporte para plantas. É a mesma estratégia dos neoconcretistas: criar objetos que só se completam na relação com o usuário.
Este móvel não pretende revolucionar o espaço doméstico, mas sim criar pequenas pausas, respirações no fluxo cotidiano. É mobiliário para os gestos menores: sentar para calçar o sapato, pendurar a jaqueta ao chegar, apoiar o copo durante uma conversa..





O Nome Como Manifesto

"Ripa na chulipa" - a expressão de Osmar Santos carrega em si toda a poética do incentivo brasileiro, da superação através da ginga. Há algo profundamente nacional nessa combinação entre praticidade e improviso, entre o formal e o coloquial.
Há objetos que nascem não da necessidade imediata, mas de uma arqueologia afetiva. O Mancebo Chulipa surge dessa escavação delicada entre memória e funcionalidade, entre o gesto cotidiano e sua elevação à categoria de desenho. .

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